4 de junho de 2012

Jardim sem flores

Hoje quero compartilhar com vocês sobre um professor de Matemática que me assustava muito. Sua personalidade não tinha nada de florida, apesar do nome... Antônio Jardim. Se vocês acham que seus professores foram diabólicos, é porque não o conheceram. Ele adorava o desespero dos alunos.

 

 

Provas, nossa... era impossível alguém pensar em colar. Ele deixava um quadrado nas questões onde deveria ser preenchido com o nosso número da chamada. Eram tantas provas, trabalhos, atividades que era difícil algum espertinho tentar calcular uma nota prévia bimestral. Eram tantas somas, subtrações e divisões que era melhor esperar pela boletim.

 

 

Nossas notas aumentavam e diminuíam de acordo com a limpeza da sala e isso ele fazia questão de observar nos mínimos detalhes - como aqueles papelzinhos minúsculos que caem no chão quando se destaca uma folha -, e pela sabatina. Os que acertavam as perguntas, não precisavam fazer no bimestre seguinte, mas os bobinhos que bombearam teriam que ralar no próximo e muito, pois o nível de dificuldade aumentava. Se você passaria com 10, mas errasse, teria média 8...Enfim, era um sufoco!

 

 

Trabalhos ele fazia questão de esperar no refeitório para receber e só até a campainha tocar. Depois entrava lentamente pelos portões tendo vários alunos desesperados no seu encalço entregando de última hora o que conseguiram responder.

E não para por aí. Ele criou um programa de computador com as quatro operações: além do tempo que passava, a cada erro nossa porcentagem final diminuía. E ele ficava lá, só de tocaia.. anotando todos os resultados.

 

 

Eu nunca fui o aluno destaque na disciplina dele, mas lembro de poucas vezes que consegui esse feito. Certa vez até passou a me chamar de Einstein (o apelido pegou depois)... Ele exigia postura e eu sempre o contrariava sem querer, sentando com uma perna sobre a outra.

 

Lembro da vez que el me viu conversando e pediu que eu respondesse uma questão na lousa. Demorei muito pensando numa resposta que era muito óbvia. Tentara fazer alguns cálculos sem obter um resultado lógico e ele simplesmente respondeu: “Não existe zero à esquerda”. Isso foi como um balde de água fria pra mim.

 

Ah, esqueci de contar que nos fazia copiar slides monstruosos com os contéudos e questões sem fim de acabar (arrastava seu notebook e datashow numa mesinha com barulho medonho)... e ele lá, sempre com um sorriso maléfico no rosto. Também não sei se era de propósito (provavelmente sim), fazia questão de ter os últimos tempos da semana, e ai de quem pensasse em matar aula... ele tinha um material tão bom no seu notebook capaz de incriminar qualquer neguinho.

 

 

Ah, ele também fazia questão de mostrar a nota de todos para todos pra criar um clima de “competitividade saudável”.

 

Mas já não quero me estender muito (não mesmo?!)... Espero ter conseguido expor em essência sobre esse querido professor. Merecia um prêmio de educação (sem ironia). As últimas notícias que tenho é que ele se aposentou e no dia que foi se despedir, os ecos de vivas eram tão altos, que davam de ser ouvidos de longas distancias.. Sua filha seguiu seus mesmos passos. Tornou-se professora de Matemática. Agora fica a dúvida se aplicará a mesma metodologia. Eu ficaria feliz. Sabem... outros teriam recordações assim.