6 de junho de 2013

Mara de Amargura?

Por um bom tempo eu não gostei de Educação Física, até conhecer a profª Mara. Ela era do tipo durona, que não levava desaforo pra casa. Até mesmo da diretora, que uma vez abriu a janela que dava de frente com a quadra, e não me lembro do que sucedeu depois. 

 

Até antes eu só conhecia essa disciplina de uma única forma: futebol e queimada, quem não gostava ficava sentado nas arquibancadas tentando entender ou então fazendo trabalhos sobre o histórico de algum desporto. Emocionante, não? 

 

Eu já tinha uma ideia pelo que eu iria passar. Meu irmão no ano anterior não fez um trabalho, atividades de participação e tirou zero de média (a desculpa foi porque não tinha papel almaço). A mãe ficou furiosa, porque era professora e esse tipo de material não faltava em casa. Ela  foi questionar e essa Mara deu um prazo para que ele entregasse. Desde ai já senti o drama..

 

Na época eu indagava minha mãe sobre se a professora não era sua irmã, porque os sobrenomes eram os mesmos.. Miranda da Silva. Ja pensou tê-la como parente? Fantasia de aluno procurando uma maneira de se dar bem.

 

A Profª Mara chegou inovando pedindo que fizéssemos exercícios que num primeiro momento pareciam cômicos e que deixavam alguns constrangidos. As segundas e quartas as aulas eram teóricas ou como na maioria, práticas. Meu primeiro encontro com a figura já não foi dos melhores, cheguei atrasado.. me recebeu com um “Boa noite?” “Por que boa noite se tá de manhã? “Além de chegar atrasado ainda quer fazer gracinha?”. Não fiz por mau, eu juro pra vocês!

Todas as aulas fazíamos o aquecimento para depois partir pro mais pesado. As horas eram longas e pareciam não ter fim. E diferente de como é hoje (no mesmo turno das aulas), íamos nas manhãs para a escola e ai de quem faltasse tanto, ela não daria oportunidade.

 

 

As lembranças mais fortes que tenho foi quando em dupla, tínhamos que arremessar a bola e outro teria que alcançar, e eu não estava conseguindo. Foi quando ela disse que isso era coisa de menino mimado, que não faz nada em casa. Bastou essas palavras, pois serviu como motivação e consegui fazer a tarefa. Ou quando pediu que eu jogasse futebol (eu não gostava), se não me daria zero. E lá fui eu ficar como goleiro, péssima ideia!

Também tenho boas, como da vez que minha equipe apresentou um trabalho sobre animais peçonhentos, e todos defenderam muito bem. Por último ainda fez uma pergunta de teste: “como posso identificar se o animal é perigoso?” “de muitas formas como: verificar a dentição, a pupila, a sua escama, a cor das listra etc” Tenho certeza que ficou impressionada com nossa tranquilidade.


Ou da vez que ela solicitou que equipes fossem formadas e que devíamos desenvolver uma atividade pra turma participar. Minha equipe desenvolveu uma bem simples e nova. Usamos dois dados, um quadrado de isopor e espetos de churrasco ao redor. Era alguma coisa sobre jogar dados, e o que fazia menos pontos ganhava e ainda tinha uma lição de moral e premiação (bis)!

 

Éramos avaliados por tudo, até mesmo pela higiene. Exigia que as meninas ficassem com o cabelo preso, ninguém poderia fazer as atividades sem tênis. Uma vez até parou a aula pra falar sobre como tomar banho, que devíamos fazer movimentos circulares no couro cabeludo, eriçar os pelos do braço pra ativar a circulação etc. 

 

Fazia circuitos na quadra, demonstrava e logo depois começava o teste. Olhando parecia tão fácil, vai fazer então rs. “Um bora menino!” Tínhamos que tirar as bolas dentro de um bambolê e colocar no outro, deslizar um cabo no chão, com outro nas mãos em linha reta, dar cambalhota num colchonete, equilibrar um cabo sobre a cabeça, arremessar bolas dentro de um bambolê breso na trave, correr com um jornal no peito sem deixar cair e tudo issomuito rápido, precisávamos ser ágeis e como nos faltava coordenação. 

 

Ensinava exercícios e dava os seus nomes como abdominal, pé-de-chinelo, falange, ombro, panturrilha.. bastava o comando e tínhamos que realizar. Fazia até provas com eles, de dois em dois entravam na escola pra demonstrar os que ela solicitava. Na medida que saíam as duplas, muitos ansiosos no portão perguntavam “e ai, o que ela pediu pra fazer?”

 

Eu tentava me aproximar dela, uma vez até me ofereci para ajudá-la a preencher seu diário, eu dizia as notas em voz alta e ela ia escrevendo no outro. Lembro até que uma nota errada de um aluno, mas preferi não dizer por ter receio de sua reação. Ou quando demonstrei pra outra turma o circuito training. Uma bagunceira falou quando fiz a cambalhota: “olha, o cofrinho dele tá aparecendo”.Que professorinha ingrata, credo!

 

No ano seguinte tive a sorte de continuar tendo-a como professora. Certa vez foi a tarde anunciar os dias das atividades e perguntou quem era o representante. Levantei a mão timidamente e ela fez um sorriso de desdém e escárnio (na verdade, eu era apenas representante na disciplina de Artes).

Vocês devem estar se perguntando sobre esse título, na verdade foi porque em alguma passagem da bíblia fala sobre uma Mara e águas amargas. A professora reclamava muito, que os pais faziam muito filhos, que não cuidavam, queriam transferir toda educação pra escola e etc, a relação com alguns professores não eram das melhores, não toleva 'puxassaquismo' 

 

A última vez que a vi foi quando eu estava me deslocando pra parada e ela acenou sorrindo.. sabia que eu tinha marcado sua vida de alguma forma rs! Minha irmã também estudou com ela e disse que ela não era essas monstruosidades toda que eu e meu irmão a pintavam. No mais, é isso.

Graças a Deus, tive uma professora que me preparou para os anos seguintes de Educação Física. Eu gostava muito de sua metodologia, apesar desses pormenores. Trabalhou muito nosso lado social, contando relatos, tirando dias para limpar a quadra etc.

Hoje em dia, quando saio para correr, lembro-me de seus exercícios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário