7 de junho de 2013

Neide dos livros

Lembrar-se da Prof.ª Neide causa nostalgia. Foi minha professora da 6ª série e até esse ano, nenhum dos anteriores tinha incentivado o gosto pela leitura. Em sua casa tinha uma biblioteca particular e desejou compartilhá-la com nossa turma e as demais. Os livros eram bem antigos, cheios de dobraduras e rabiscos. Dava para perceber que foram muito manuseados. Atrás das capas, vinha um bilhetinho escrito da seguinte forma:

Este livro faz parte da biblioteca particular da professora Neide Costa Caldas, portanto, tenha alguns cuidados:
-Não rabisque;
-Não sublinhe;
-Não dobre as folhas;

Ela deixou bem claro que se perdêssemos, teríamos que pagar um novo. É claro que alguns coleguinhas conseguiram essa proeza. Acharam que pelos livros serem com poucas páginas e antigos, encontrariam por um preço bacana. E como se enganaram quando foram procurar em livrarias...

Tínhamos um prazo para lê-los e em seguia, havia outras etapas onde devíamos fazer um trabalho pondo todos os nomes dos personagens e suas características e um pequeno resumo, e claro, uma ‘avaliaçãozinha’ para saber se realmente lemos o livro. Por que naquele tempo (não faz tanto assim), a internet não era muito utilizada, e se você for pesquisar pelos títulos dessa coleção não vai encontrar grande coisa. Então, o jeito era ler, já que valia a nota do bimestre!

Tinham vários títulos e escolhi “O desafio do Pantanal” a professora acompanhou de perto esse processo com um sorriso enorme dando dicas sobre o que poderíamos esperar dos livros. Ainda tenho alguns flashes sobre os capítulos, como o quando a personagem foi presa e ficou temerosa de ir para uma cela comum, apesar de ter nível superior, não imaginava que precisaria dele num ambiente tão hostil, mas foi tranquilizada que dificilmente alguém era preso então não teria companhia. Deu pra sentir as reações?  Cheguei a ler no ano seguinte “O mistério do cinco estrelas”,  a fome pela leitura, de fazer um trabalho decente e se superar, eram gritantes.

Uma vez eu a decepcionei porque certa vez pediu que escrevêssemos uma redação, onde teríamos que se passar por um animal pedindo que os seres humanos cuidassem melhor do planeta. A minha redação foi escolhida, na verdade eu nem sabia que se tratava dum concurso. Quando leu o regulamento, percebeu que eu não havia atingido o número mínimo de caracteres e pediu que eu desenvolvesse e entregasse no dia seguinte. Mas eu não consegui fazê-la e com vergonha, não fui à escola. Deve ter me esperado por um bom tempo, afinal o prazo para entregar era até esse fim de semana. Ela estava tão feliz com a ideia e confiante. Chegara a afirmar “eu vou conhecer Brasília”.

Era uma professora muito bonita, do cabelo louro e olhos claros. Na sala dizia para as meninas que ela era linda porque não havia se casado ou tido filhos. Alguns caçoavam do seu jeito de antar, só sei que sua inteligência e bom humor, sua didática, - onde todos entendiam perfeitamente coisas com sujeito agente e paciente-, eram suficientes para driblar pormenores.

 
Cheguei a ler dois outros livros de sua coleção. Foi nos anos seguintes quando minha irmã também estudou com ela (leitura não era seu forte). Devorei “Aventura no Império do sol” e “A guerra do lanche”, eu fiz os resumos e tudo mais, até contava as histórias para que ficasse por dentro. Foi como voltar para o colegial.
A última vez que a vi, estava no Teatro amazonas, usando um vestido azul e acompanhada de um senhor. Acho que mudou de ideia sobre ficar sozinha.

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